Oct 9, 2019
Frederico Lourenço nem precisa de apresentação, tal a notoriedade que tem ganho pelo trabalho que o tem ocupado nos últimos anos, nada mais nada menos do que a modesta empresa de traduzir a totalidade da Bíblia, de um só folgo. São seis volumes, dos quais já tinha saído três à data em que esta conversa foi gravada. Esta obra de Frederico Lourenço tem duas facetas que a tornam especial. Por um lado, é uma tradução que se pode dizer ‘laica’, ie, não teológica, mas antes focada na literalidade dos textos originais. Por outro, é a primeira tradução em Portugal feita a partir dos textos em grego. Ora, o grego é a língua original do Novo Testamento e, embora não seja, claro, a língua original do Antigo, é a versão traduzida para grego que nos chegou até hoje mais fiel aos escritos originais.
Já expliquei em episódios anteriores as razões por que, sendo eu
agnóstico, a religião, e o Cristianismo em particular, me
interessam. E julgo que esta conversa espelha bem esses motivos.
Perceber a vertigem da Humanidade para a religião é abrir uma
janela para perceber melhor a biologia e psicologia humanas. Por
outro lado, compreender, em particular, o Cristianismo e a Bíblia,
é perceber um elemento fundamental da História do Ocidente e
perceber como é que um livro destes continua a ter uma tão grande
influência - directa e, sobretudo, indirecta - sobre a sociedade
actual, mais de 150 anos depois da publicação da ‘Origem das
Espécies’ de Darwin.
Biografia detalhada: Frederico Lourenço é
ficcionista, ensaísta, poeta e tradutor. Licenciou-se, em 1988, em
Línguas e Literaturas Clássicas na Universidade de Lisboa, onde
mais tarde se doutorou com uma tese sobre os cantos líricos de
Eurípides. É atualmente professor na Faculdade de Letras da
Universidade de Coimbra (depois de vinte anos na Universidade de
Lisboa, onde se doutorou com uma tese sobre Eurípides). Traduziu a
Ilíada e a Odisseia de Homero, bem como um volume de poesia grega,
duas tragédias de Eurípides ou peças de Schiller e Arthur
Schnitzler. Publicou já três dos seis volumes que compreenderão a
maior e mais completa Bíblia em português alguma vez já feita.
Previsto para entregar o último volume em 2020, a proposta do
tradutor é dar ao leitor de língua portuguesa a sensação de estar o
ler o texto bíblico na língua original, respeitando rigorosamente a
literalidade contida no idioma original das escrituras. No domínio
da ficção é autor da trilogia Pode Um Desejo Imenso (que inclui
também, além do título homónimo, os romances O Curso das Estrelas e
À Beira do Mundo), bem como de A Formosa Pintura do Mundo, Amar Não
Acaba e A Máquina do Arcanjo, ou do volume autobiográfico O Lugar
Supraceleste. Publicou ensaios como O Livro Aberto: Leituras da
Bíblia, Grécia Revisitada, Estética da Dança Clássica ou Novos
Ensaios Helénicos e Alemães, e livros de poemas como Santo Asinha e
Outros Poemas e Clara Suspeita de Luz. Entre outros, recebeu os
prémios PEN Clube (2002), D. Diniz da Casa de Mateus (2003), Grande
Prémio de Tradução (2003), Prémio Europa David Mourão-Ferreira
(2006) e Prémio Pessoa (2016).